quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Parabola

We barely remember who or what came before this precious moment,
We are choosing to be here right now.
hold on, stay inside...
This holy reality, this holy experience.
choosing to be here in...
This body. this body holding me.
be my reminder here that I am not alone in
This body, this body holding me,
feeling eternal
all this pain is an illusion.
Alive
This holy reality, in this holy experience.
choosing to be here in...
This body. this body holding me.
be my reminder here that I am not alone in
This body, this body holding me,
feeling eternal
all this pain is an illusion...
Of what it means to be alive
Swirling round with this familiar parable.
Spinning, weaving round each new experience.
Recognize this as a holy gift and celebrate this
Chance to be alive and breathing
Chance to be alive and breathing.
This body holding me reminds me of my own mortality.
Embrace this moment.
remember.
we are eternal.
All this pain is an illusion.
Tool

Adeus



Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade

domingo, 18 de novembro de 2007

La Cassaria

Corisca- Eu bem sei o que Carídoro me prometeu tantas vezes, e tu sabes o que Erófilo te prometeu a ti. E quanto nos amam, igualmente o sabemos.
Eulália- Bem sei que o prometeram; mas não sei se querem manter as promessas; nem sei se nos amam, nem tu o sabes, pois não lhes vês a alma. Só sabemos o seguinte: que nos deveriam amar.

Ludovico Ariosto

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

A menina que nunca chorava

Para a Torey com muito Amor

Todos os outros vieram

Tentaram fazer-me rir

Brincaram comigo

Algumas vezes para rir e outras a sério

E depois partiram

Abandonando-me nas ruínas das brincadeiras

E eu não sabia quais eram a sério.

Quais eram para rir e

Vi-me sozinha com os ecos dos risos

Que não eram os meus.

E depois tu chegaste

Com os teus modos estranhos

Nem sempre humanos

E fizeste-me chorar

E não pareceste importar-te que chorasse.

Disseste que as brincadeiras tinham acabado

E esperaste

Até que as minhas lágrimas se transformassem

Em alegria.

Sheila, 6 anos
(Torey Hayden)

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Apeteceu-me

Acima de tudo, na vida, temos a necessidade de alguém que nos obrigue a realizar aquilo de que somos capazes. É este o papel da amizade.

Emerson

(Sou tão feliz.)

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

E ao Anoitecer


E ao anoitecer adquires nome de ilha ou de vulcão
deixas viver sobre a pele uma criança de lume
e na fria lava da noite ensinas ao corpo
a paciência o amor o abandono das palavras
o silêncio
e a difícil arte da melancolia.
Al Berto

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

V for Vendetta



"I don't know who you are. Please believe. There is no way I can convince you that this is not one of their tricks. But I don't care. I am me, and I don't know who you are, but I love you.
I have a pencil. A little one they did not find. I am a women. I hid it inside me. Perhaps I won't be able to write again, so this is a long letter about my life. It is the only autobiography I have ever written and oh God I'm writing it on toilet paper.
I was born in Nottingham in 1957, and it rained a lot. I passed my eleven plus and went to girl's Grammar. I wanted to be an actress.
I met my first girlfriend at school. Her name was Sara. She was fourteen and I was fifteen but we were both in Miss. Watson's class. Her wrists. Her wrists were beautiful. I sat in biology class, staring at the picket rabbit foetus in its jar, listening while Mr. Hird said it was an adolescent phase that people outgrew. Sara did. I didn't.
In 1976 I stopped pretending and took a girl called Christine home to meet my parents. A week later I enrolled at drama college. My mother said I broke her heart.
But it was my integrity that was important. Is that so selfish? It sells for so little, but it's all we have left in this place. It is the very last inch of us. But within that inch we are free.
London. I was happy in London. In 1981 I played Dandini in Cinderella. My first rep work. The world was strange and rustling and busy, with invisible crowds behind the hot lights and all that breathless glamour. It was exciting and it was lonely. At nights I'd go to the Crew-Ins or one of the other clubs. But I was stand-offish and didn't mix easily. I saw a lot of the scene, but I never felt comfortable there. So many of them just wanted to be gay. It was their life, their ambition. And I wanted more than that.
Work improved. I got small film roles, then bigger ones. In 1986 I starred in "The Salt Flats." It pulled in the awards but not the crowds. I met Ruth while working on that. We loved each other. We lived together and on Valentine's Day she sent me roses and oh God, we had so much. Those were the best three years of my life.
In 1988 there was the war, and after that there were no more roses. Not for anybody.
In 1992 they started rounding up the gays. They took Ruth while she was out looking for food. Why are they so frightened of us? They burned her with cigarette ends and made her give them my name. She signed a statement saying I'd seduced her. I didn't blame her. God, I loved her. I didn't blame her.
But she did. She killed herself in her cell. She couldn't live with betraying me, with giving up that last inch. Oh Ruth. . . .
They came for me. They told me that all of my films would be burned. They shaved off my hair and held my head down a toilet bowl and told jokes about lesbians. They brought me here and gave me drugs. I can't feel my tongue anymore. I can't speak.
The other gay women here, Rita, died two weeks ago. I imagine I'll die quite soon. It's strange that my life should end in such a terrible place, but for three years I had roses and I apologized to nobody.
I shall die here. Every last inch of me shall perish. Except one.
An inch. It's small and it's fragile and it's the only thing in the world worth having. We must never lose it, or sell it, or give it away. We must never let them take it from us.
I don't know who you are. Or whether you're a man or a woman. I may never see you or cry with you or get drunk with you. But I love you. I hope that you escape this place. I hope that the world turns and that things get better, and that one day people have roses again. I wish I could kiss you.

Valerie
X"



( escrito por Alan Moore)

Les amants


Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Escrever, por exemplo:
"A noite está estrelada, e tiritam, azuis, os astros lá ao longe".
O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu amei-a e por vezes ela também me amou.
Em noites como esta tive-a em meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela amou-me, por vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho.Sentir que já a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.
Importa lá que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo.Ao longe alguém canta. Ao longe.
A minha alma não se contenta com havê-la perdido.
Como para chegá-la a mim o meu olhar procura-a.
O meu coração procura-a, ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquejar as mesmas árvores.
Nós dois, os de então, já não somos os mesmos.
Já não a amo, é verdade, mas tanto que a amei.
Esta voz buscava o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.
A voz, o corpo claro. Os seus olhos infinitos.
Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame ainda.
É tão curto o amor, tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta tive-a em meus braços,
a minha alma não se contenta por havê-la perdido.
Embora seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

Pablo Neruda

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Inflatable



Let it slide
Overhead
When I believe in you
My soul can rest


But our love
It's really love
It never fades
But fade it does


When we shine
Like the sun
You seem the only one
My only friend

[chorus]

So pretty in white
Pretty when youre faithful
So pretty in white
Pretty when youre faithful
When youre faithful...


I resigned
From myself
Took a break
Was someone else
Its like Ive come undone
And Ive only just become
Inflatable for you

...

I dont mind
Most of the time
But you push me so
Far inside


Bush

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Pagos a Dobrar

"(...)Tinha feito tudo por ela e não a queria ver mais enquanto fosse vivo. É assim: basta uma gota de medo para transformar o amor em ódio."

James M. Cain

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O Grito

«Caminhava eu com dois amigos pela estrada, então o sol pôs-se; de repente, o céu tornou-se vermelho como o sangue. Parei, apoiei-me no muro, inexplicavelmente cansado. Línguas de fogo e sangue estendiam-se sobre o fio de preto-azulado. Os meus amigos continuaram a andar, enquanto eu fiquei para trás a tremer de medo e senti o grito enorme, infinito, da natureza.»
Edvard Munch

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Mas...

Seguindo em frente, que é para lá que vai o caminho. Mas.
Essa é que é essa.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Ficar (canção de embalar)

Ah se eu pudesse não partir
Eu ficava aqui contigo
Se eu pudesse não querer descobrir
.
Ah se eu pudesse não escolher
Eu juro era este o meu abrigo
Se eu pudesse não saber que há mais
.
Mas como pode a Lua não querer o céu?
Como pode o Mar não querer o chão?
Como pode a Vontade acalmar o desejo?
Como posso eu ficar?
.
(...)
Como posso eu ficar?
.
.
Música de Margarida Pinto , poema do mestre Cesarinny.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Adormecido


No cenário da tua vida
aclamas noites alucinantes
de gentes estonteantes
que são tanto como tu

No teatro do teu olhar
há quem note que a coragem
não passa de uma miragem
com preguiça de gritar
No repetir do teu mostrar
inventas-te uma história
de que em ti não há memória
porque sabes que não é tua...


Houve alguém que te conheceu
Que te faz tremer ao passar
porque nunca a deixaste de amar...


Continuas a ensaiar
a conveniência do sorriso
o planear do improviso
que te faz sentir maior
no artifício dos teus gestos
pensas abraçar o mundo
quando nem por um segundo
te abraças a ti mesmo
e assim vais vivendo
e assim andando aí
e assim perdendo em ti
tudo aquilo que nunca foste...


(...)

Quando um dia acordares
numa noite sem mentira
e te vires onde não estás
vais querer voltar para trás


*Houve alguém que te conheceu
*Que te faz tremer ao passar
*porque nunca a deixas-te de amar...


Toranja, by Tiago Bettencourt

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Antídoto



" E se fizéssemos um livro e um disco como nunca se fez? E fizemos. As tardes passadas no local de ensaios, as noites de concertos, os dias no estúdio em Helsínquia. As primeiras versões do texto, papéis-riscados, o écran do computador. As tardes, as noites, os dias. Um só antídoto contra todos os venenos: o trabalho baseado na amizade e a vontade de dar aos outros o melhor de nós próprios. "




José Luís Peixoto

Elogio ao Amor




"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.


O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixonade verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão alimesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.


Hoje em dia aspessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passívelde ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios.Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia serdesmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.


Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amorcego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há,estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, sãouma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?


O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nascostas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida,o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea porsopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amorfechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor éamor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como nãopode. Tanto faz. É uma questão de azar.


O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio,não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não sepercebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor éa nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.


O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe.Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amorque se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado,viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se podeceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."


Miguel Esteves Cardoso. Isto não poderia, nunca, cá faltar.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Marcos

"E eu que me queixava de não ter sapatos, encontrei alguém que não tinha pés."

Provérbio Àrabe

Magritte


Ele, sim, sabia-a toda.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Esfera




Por sinal, essa esfera que me tentava sem me olhar,
Nada mais era do que um som
Que me levava a tentar fugir de ti...sair de ti...
Uma vez mais, sem saber porquê,
Desisti p'ra te dizer:Não dá mais, quero mais
Se não for assim
Esconde esse sorriso que me faz querer matar por mais!

Mais, mais
Quero mais
Mais, mais
Por isso esconde esse sorriso que me faz querer matar por mais...

Só assim dá para mim conseguir que não doa mais,
Que me deixes ir,
Que me libertes de ti, que nao me faças sentir,
E eu não quero cair, não me posso entregar
Sem que percebas que não podes julgar,
E eu quero tentar, poder acreditar
Que o aperto cá dentro
Um dia vai acabar...

E o monstro em mim, nao irá sucumbir,
Não desfalece por não conseguir
Que olhes para mim, que me faças existir
Esconde esse sorriso que me faz querer matar por mais!
Mais, mais
Quero mais
Mais, mais
Por isso esconde esse sorriso que me faz querer matar por mais.

Pedro Khima

domingo, 12 de agosto de 2007

Pensar


"Quando estiveres cansado de olhar uma flor, uma criança, uma pedra, quando estiveres cansado ou distraído de ouvir um pássado explicar o ser, quando te não intrigar o existirem coisas e numa noite de céu limpo nenhuma estrela te dirigir a palavra, quando estiveres farto de saberes que existes e não souberes que existes, quando não reparares que nunca reparaste no azul do mar, quando estiveres farto de querer saber o que nunca saberás, se nunca o amanhecer amanheceu em ti ou já não amanhece, se nunca amaste a luz e só o que ela ilumina, se nunca nasceste por ti e não apenas pelos que te fizeram nascer, se nunca soubeste que existias com esse existir,
porque temes a morte, se já estás morto?"
Vergílio Ferreira

terça-feira, 24 de julho de 2007

A Gente Vai Continuar



Tira a mão do queixo, não penses mais nisso
O que lá vai já deu o que tinha a dar
Quem ganhou, ganhou e usou-se disso
Quem perdeu há-de ter mais cartas para dar
E enquanto alguns fazem figura
Outros sucumbem à batota
Chega aonde tu quiseres
Mas goza bem a tua rota

Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar

Todos nós pagamos por tudo o que usamos
O sistema é antigo e não poupa ninguém, não
Somos todos escravos do que precisamos
Reduz as necessidades se queres passar bem
Que a dependência é uma besta
Que dá cabo do desejo
E a liberdade é uma maluca
Que sabe quanto vale um beijo


Enquanto houver estrada para andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada para andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar
Jorge Palma

quarta-feira, 18 de julho de 2007

terça-feira, 17 de julho de 2007

Maria da Lua II


"baloiçar

O baloiço é das minhas mais queridas recordações de infância. Voava. Impulsionada pelo sonho. De olhos fechados. Porque o mundo era meu. Não precisava sequer que me empurrassem. Sozinha. Sonhava tudo. E balouçava. Sempre. Hoje. Na cadeira ou na rede. Ainda balouço. O mundo ainda é meu. Mas às vezes preciso que me empurrem."
.
.
Há gente tão mágica no mundo da escrita...

Às vezes bastava um beijo, sabias?


"Escondo as lágrimas, passo a água pelo rosto, olho-me no espelho mal iluminado e penso que tenho de estar apresentável.
Não tenho tempo para chorar. Ou para ter pena de mim. Ou para sentir. É melhor mesmo nem sentir o que se passa cá dentro. O que mói e o que me esventra por dentro. Às vezes bastava um beijo, sabias?
Ajeito as calças e componho o blaser azul escuro. Com a escova, estico os cabelos com força, para matar os caracóis. Eliminar os vestígios de mim na mulher que se reflecte no espelho. Nunca se nasce outra vez. Eu queria nascer de novo. Para te tirar de dentro de mim.
Passo o batom nos lábios, em jeito de toque final. Estou pronta.
às vezes bastava um beijo, sabias?"

segunda-feira, 9 de julho de 2007


Nos teus braços morreríamos.




"Os amantes sabem porque morrem


Acordo com um ferro no coração. Qualquer movimento pode reabrir a ferida. O melhor é ficar quieto, aproveitar estes minutos, sentado na varanda com vidros que me isolam do mundo a olhar o areal imenso e o mar branco lá ao fundo. Nada mexe e eu não mexo. Se houvesse um sentido era este. (...)


Confissão


Escrever pode ser uma óptima desculpa para quem na vida não tem qualquer esperança. É uma maneira de preencher uma sombra e há momentos em que um beijo escrito vale por muitos.
É sempre a vida, é claro, mas com a distância limpíssima das palavras. E tudo sofre de uma insuficiência que a arte tenta reparar, e falha.
Eu espero que a esperança um dia venha e tudo isto não seja mais do que um exercício de gramática."


Pedro Paixão

segunda-feira, 2 de julho de 2007

A Casa do Incesto II


"(...) Olhávamos agora a dançarina que ocupava o centro da sala numa dança de mulher sem braços. Dançava como se fosse surda e não pudesse seguir o ritmo da música. Dançava como se não pudesse ouvir o som das castanholas. Dança isolada e separada da música, de nós, da sala, da vida. As castanholas soavam como passos de fantasmas.



Ela dançava, rindo e suspirando e respirando tudo a seu favor. Dançava os seus medos, parando no meio da cada dança para atender a críticas que não podia ouvir ou para se entregar ao aplauso que não tínhamos fetio. Ouvia música que não podíamos ouvir movida por alucinações que não tínhamos.




Os braços foram-me tirados, cantava. Fui punida por abraçar. Abracei. Prendi todos os que amei. Prendi nos momentos mais belos da minha vida. Fechei as mãos a plenitude de cada hora. Os braços apertados no desejo de abraçar. Quis abraçar a luz, o vento, o sol, a noite, o mundo inteiro e quis retê-los. Quis acariciar, curar, embalar, aclamar, envolver, cercar.


Forcei-os e prendi de tal modo que se partiram; partiram de mim. Tudo passou então a evitar-me. Estava condenada a não prender."



Anaïs Nin

A Casa do Incesto

"(...)Secaram as sementes no silêncio da rocha mineral. As palavras que não chegamos a gritar, as lágrimas retidas, as pragas que se engolem, a frase que se encurta, o amor que matamos, tudo isso transformado em minério magnético, em turmalina, em àgata, o sangue congelado em cinábrio, sangue calcinado tornado galena, oxidado, aluminizado, sulfatado, calcinado, o brilho mineral de meteoros mortos e sóis exaustos numa floresta de árvores secas e desejos mortos. (...)

(...)Lutou contra a chegada da morte: não amo ninguém; não amo ninguém, nem sequer o meu irmão. Não amo nada para além desta ausência de dor, neutra e fria ausência de dor.(...)

(...)E encontrou o irmão adormecido entre os quadros.

Adormeci entre os quadros, Jeanne, onde por muitos dias poderia sentar-me a adorar o teu retrato. Jeanne, eu apaixonei-me pelo teu retrato porque ele não iria nunca mudar. Jeanne, eu tenho medo de te ver envelhecer; eu apaixonei-me por um tu inalterável que nunca me poderá ser retirado. Desejei que morresses para que ninguém te pudesse tirar de mim e eu amaria o teu retrato, imagem que terás eternamente.(...)

Anaïs Nin

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Caçador de Sóis

Pelo céu as cavalitas,
Escondi nos teus caracois,
A estrela mais bonita,
que eu já vi
Eu cresci com um encanto,
De ser caçador de sois,
Eu já corri tanto, tanto
para ti
.
Fui um principe encantado
Montado nos teus joelhos,
Um eterno enamorado,
a valer
Lancelot de algibeira,
Mas segui os teus conselhos
Para voltar a tua beira
E ser o que eu quiser
.
Refrão (x2)
Os teus olhos foram esperança
Os meus olhos girassois
Fomos onde a vista alcança da nossa janela
.
Já deixei de ser criança
e tu dormes á lareira
Ainda sinto a minha estrela nos teus caracóis
.
Refrão
Os teus olhos foram esperança
Os meus olhos girassois
Fomos onde a vista alcança da nossa janela
.
Já deixei de ser criança e tu dormes á lareira
Ainda sinto a minha estrela nos teus caracóis
.
Ala dos Namorados
.
Esta avisaram-me antes de a ouvir. De pouco valeu, apaixonei-me sem só nem piedade. =)

O pastor


Ai que ninguém volta
ao que já deixou
ninguém larga a grande roda
ninguém sabe onde é que andou

Ai que ninguém lembra
nem o que sonhou
(e)aquele menino canta
a cantiga do pastor

Ao largo ainda arde a barca da fantasia
e o meu sonho acaba tarde
deixa a alma de vigia

Ao largo ainda arde a barca da fantasia
e o meu sonho acaba tarde
acordar é que eu não queria

Madredeus

terça-feira, 26 de junho de 2007

Dizem os Mestres


Um dia (...) Fani saiu porta fora e não voltou mais. Tinha concluído que o amor, uma vez destacado das suas imitações, não pode mais ser comparado a nada. Preferiu viver só, unicamente entregue ao prazer da sua história de poucos minutos num autocarro do aeroporto de Nova Iorque. Era um caso aberrante e único, em que muitas coisas e pessoas eram traídas. Mas o amor é implacável. É melhor não deparar com ele nem com os seus sinais. É melhor.

Agustina Bessa-Luis

Passa de vez em quando uma rapariga numa vida, uma rapariga alta e morena, com cabelo até à cintura, que olha para trás e para nós como se nos pedisse para dizer "eu vou matar-me". E essa rapariga só precisa de um segundo, de um pequeno segredo, que nos esconde na alma, sem se importar com isso. E fica-nos para o resto da vida, presente em todos os instantes da vida, atravessada nas nossas poucas alegrias.Arruina-nos os amores, passando pelos quartos onde estamos deitados com raparigas muito piores e olhando por cima dos ombros como se tivesse pena de nós.Às vezes passa uma rapariga na vida que nunca mais deixa de passar, que nos interrompe e condena e encanta, sem saber o mal e o bem que nos faz e que nos fica na alma como aquelas pessoas que passam no momento em que se tira uma fotografia e passam a ser a pessoa que se fotografou (...).

Miguel Esteves Cardoso

Prendi-te e fiquei-te.


" E começo a sentir saudades dela e dá-me para me lembrar do seu riso.
E pronto, encalhei aqui e não me apetece que me venham salvar. "

Domingos Amaral

A Seta



A seta apaixonou-se pelo vento
Quis deixar-se levar pela sua força
Voámos os dois na mesma direcção
Mas o vento só vai para onde lhe apetece

A seta apaixonou-se pelo vento
Quis deixar-se levar pelo seu talento
E entrámos os dois numa combinação
Que tendia para o infinito inequivocamente

Amanhã não vais ter tanto encanto. (5x)

E o vento apaixonou-se pela seta
Quis deixar-se acompanhar pela coisa concreta
Que surgia como justificação
Para a materialidade de um traço no céu

E o vento apaixonou-se pela seta
E quis fazer com ela a volta completa
Mas a seta estava farta de dispersão
Voou para Barcelona e deixou solidão

Amanhã não vais ter tanto encanto. (3x)

Oioai