
"Escondo as lágrimas, passo a água pelo rosto, olho-me no espelho mal iluminado e penso que tenho de estar apresentável.
Não tenho tempo para chorar. Ou para ter pena de mim. Ou para sentir. É melhor mesmo nem sentir o que se passa cá dentro. O que mói e o que me esventra por dentro. Às vezes bastava um beijo, sabias?
Ajeito as calças e componho o blaser azul escuro. Com a escova, estico os cabelos com força, para matar os caracóis. Eliminar os vestígios de mim na mulher que se reflecte no espelho. Nunca se nasce outra vez. Eu queria nascer de novo. Para te tirar de dentro de mim.
Passo o batom nos lábios, em jeito de toque final. Estou pronta.
às vezes bastava um beijo, sabias?"