segunda-feira, 2 de julho de 2007

A Casa do Incesto

"(...)Secaram as sementes no silêncio da rocha mineral. As palavras que não chegamos a gritar, as lágrimas retidas, as pragas que se engolem, a frase que se encurta, o amor que matamos, tudo isso transformado em minério magnético, em turmalina, em àgata, o sangue congelado em cinábrio, sangue calcinado tornado galena, oxidado, aluminizado, sulfatado, calcinado, o brilho mineral de meteoros mortos e sóis exaustos numa floresta de árvores secas e desejos mortos. (...)

(...)Lutou contra a chegada da morte: não amo ninguém; não amo ninguém, nem sequer o meu irmão. Não amo nada para além desta ausência de dor, neutra e fria ausência de dor.(...)

(...)E encontrou o irmão adormecido entre os quadros.

Adormeci entre os quadros, Jeanne, onde por muitos dias poderia sentar-me a adorar o teu retrato. Jeanne, eu apaixonei-me pelo teu retrato porque ele não iria nunca mudar. Jeanne, eu tenho medo de te ver envelhecer; eu apaixonei-me por um tu inalterável que nunca me poderá ser retirado. Desejei que morresses para que ninguém te pudesse tirar de mim e eu amaria o teu retrato, imagem que terás eternamente.(...)

Anaïs Nin