
"(...) Olhávamos agora a dançarina que ocupava o centro da sala numa dança de mulher sem braços. Dançava como se fosse surda e não pudesse seguir o ritmo da música. Dançava como se não pudesse ouvir o som das castanholas. Dança isolada e separada da música, de nós, da sala, da vida. As castanholas soavam como passos de fantasmas.
Ela dançava, rindo e suspirando e respirando tudo a seu favor. Dançava os seus medos, parando no meio da cada dança para atender a críticas que não podia ouvir ou para se entregar ao aplauso que não tínhamos fetio. Ouvia música que não podíamos ouvir movida por alucinações que não tínhamos.
Os braços foram-me tirados, cantava. Fui punida por abraçar. Abracei. Prendi todos os que amei. Prendi nos momentos mais belos da minha vida. Fechei as mãos a plenitude de cada hora. Os braços apertados no desejo de abraçar. Quis abraçar a luz, o vento, o sol, a noite, o mundo inteiro e quis retê-los. Quis acariciar, curar, embalar, aclamar, envolver, cercar.
Forcei-os e prendi de tal modo que se partiram; partiram de mim. Tudo passou então a evitar-me. Estava condenada a não prender."
Anaïs Nin