sábado, 2 de fevereiro de 2008

Notas para o diário


Deus tem que ser substituído rapidamente por poemas, sílabas sibilantes, lâmpadas acesas, corpos palpáveis,vivos e limpos.

A dor de todas as ruas vazias.

Sinto-me capaz de caminhar na língua aguçada destes ilêncio. E na sua simplicidade, na sua clareza, no seu abismo.

Sinto-me capaz de acabar com esse vácuo, e de acabar comigo mesmo.

A dor de todas as ruas vazias.

Mas gosto da noite e do riso de cinzas. Gosto do deserto e do acaso da vida. Gosto dos enganos, da sorte e dos encontros inesperados.

Pernoito quase sempre no lado sagrado do meu coração, ou onde o medo tem a precaridade doutro corpo.

A dor de todas as ruas vazias.

Pois bem, mário - o paraíso sabe-se que chega a Lisboa na fragata do alfeite. Basta pôr uma lua nervosa no cimo do mastro, e mandar arrear o velame.

É isto que é preciso dizer: daqui ninguém sai sem cadastro.

A dor de todas as ruas vazias.

Sujo os olhos com sangue. chove torrencialmente. O filme acabou. Não nos conheceremos nunca.

A dor de todas as ruas vazias.

Os poemas adormeceram no desassossego da idade. Fulguram na perturbação de um tempo cada dia mais curto. E, por vezes, ouço-os no transe da noite. Assolam-me as imagens, rasgam-me as metáforas insidiosas, porcas. ..e nada escrevo.

O regresso à escrita terminou. A vida toda fodida - e a alma esburacada por uma agonia tamanho deste mar.

A dor de todas as ruas vazias.



Al Berto