terça-feira, 26 de junho de 2007

Dizem os Mestres


Um dia (...) Fani saiu porta fora e não voltou mais. Tinha concluído que o amor, uma vez destacado das suas imitações, não pode mais ser comparado a nada. Preferiu viver só, unicamente entregue ao prazer da sua história de poucos minutos num autocarro do aeroporto de Nova Iorque. Era um caso aberrante e único, em que muitas coisas e pessoas eram traídas. Mas o amor é implacável. É melhor não deparar com ele nem com os seus sinais. É melhor.

Agustina Bessa-Luis

Passa de vez em quando uma rapariga numa vida, uma rapariga alta e morena, com cabelo até à cintura, que olha para trás e para nós como se nos pedisse para dizer "eu vou matar-me". E essa rapariga só precisa de um segundo, de um pequeno segredo, que nos esconde na alma, sem se importar com isso. E fica-nos para o resto da vida, presente em todos os instantes da vida, atravessada nas nossas poucas alegrias.Arruina-nos os amores, passando pelos quartos onde estamos deitados com raparigas muito piores e olhando por cima dos ombros como se tivesse pena de nós.Às vezes passa uma rapariga na vida que nunca mais deixa de passar, que nos interrompe e condena e encanta, sem saber o mal e o bem que nos faz e que nos fica na alma como aquelas pessoas que passam no momento em que se tira uma fotografia e passam a ser a pessoa que se fotografou (...).

Miguel Esteves Cardoso